segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

VW


Me afogo no trabalho de cada dia e aí percebo que minha vida não é tão espaçosa quanto imagino.


Não é furgão; é fusca.


No mais, talvez eu tenha que pisar no freio e ficar parado no acostamento um tempinho, admirando a paisagem.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

King of Limbs - Radiohead


Maravilha! oportunamente, volto a dar minhas opiniões irrelevantes exatamente sobre o lançamento do trabalho de minha banda existente favorita (Os Beatles não existem mais...)


Já ouvimos metade de King of limbs, o oitavo disco do Radiohead, quando Thom Yorke sugere, num falsete: “Vamos afundar e ficar em silêncio como camundongos. Enquanto o gato está longe, podemos fazer tudo o que quisermos.”


O trechinho deve inspirar dezenas de interpretações. A minha: ele ajuda a entender o temperamento de uma banda que preza a liberdade – mas entende que não se pode conquistá-la sem alguma coragem, sem algum atrevimento.
A trajetória do grupo – principalmente desde Kid A (2000) – conta a história de cinco ingleses que viram a necessidade de criar um território particular, um lugar no mundo, para habitar e fazer tudo o que quisessem.
Esse desejo se manifestou num gesto musical (a “banda de canções” se transformou numa “banda de ambiências, de experimentos”) e também comercial, quando o quinteto rompeu com a EMI e passou a lançar discos por conta própria, criando ou reinventando as regras do próprio jogo.


A música passou a acompanhar as mutações comerciais, até porque eles sabem que não se consome discos como na época de The bends (1995) ou Ok computer (1997). A questão passou a ser: como uma banda pop deve se portar diante de um público que, quando começou a baixar músicas aceleradamente, desmistificou todo o esquema de divulgação e vendas criado pelas grandes gravadoras? Como lidar com um público que perdeu a inocência?


Com In rainbows (2007) e a estratégia do “pague quanto quiser”, o Radiohead criou um pacto com os fãs (os convidou para uma experiência de audição coletiva, mundial, sem área VIP para jornalistas) e descobriu uma forma de ganhar dinheiro com o vazamento do disco, sem brigar com o fato de que a troca de arquivos se tornou inevitável.


Musicalmente, o que surgiu foi uma banda também mais independente, mais relaxada (no bom sentido), despreocupada, mais acessível do que nos tempos de Kid A, amolecida por uma certa inspiração de soul music, uma massa eletrônica por vezes acolchoada, sensual. Não demorou para que aparecesse o veredicto: um Radiohead mais “humano”. Tanto do ponto de vista comercial quanto musical, The king of limbs dá alguns passos para trás em relação a In rainbows. Em vez de permitir que o público pagasse o quanto preferisse, o grupo estipulou um valor para o download (US$ 9, para a versão em MP3). Em vez de planejar um capítulo novo para o som da banda, gravaram um disco que nos remete aos cacos de outros que já lançaram.


O que pode incomodar, acima de tudo, é a impressão de acomodação. Na manhã de sexta-feira, a experiência de audição coletiva se repetiu exatamente como eles planejaram. Já a sonoridade do disco, dividido claramente em duas partes, tenta uma conexão entre os momentos mais arredios da banda (a fase Kid A/Amnesiac, agora com tempero dubstep) e a languidez de In rainbows.


O encontro entre esses dois “estados de espírito” produz um disco de beleza incomum, difícil – um álbum quebradiço, assimétrico, incompleto, frágil, cujas peças não se encaixam. Provoca, por isso, algum mal estar. Tenho quase certeza, porém, que essa sensação de desconforto estava nos planos da banda.


Isso porque, desde In rainbows, Yorke critica o formato tradicional do álbum. Numa determinada entrevista, avisou que abandonaria de vez os discos – via internet, distribuiria conjuntos de canções, lançadas tão logo fossem gravadas. A banda voltou atrás, mas The king of limbs é um espelho dessas incertezas: ele acaba soando mais como uma reunião de faixas criadas durante um determinado período do que uma obra coesa, envolvida num conceito bem definido. Nesse ponto, lembra Hail to the thief (2003), que também apontava várias direções sem saber (ou sem querer saber) onde aportar.


As ligações entre as faixas são quase etéreas, e aparecem nas imagens de natureza (em Bloom, Lotus flower e em Codex, em que um lago representa a pureza) e em arranjos circulares, percussivos, por vezes alienígenas (o loop de Morning Mr. Magpie, por exemplo), quase sempre amparados na bateria jazzística de Phil Selway e no baixo de Colin Greenwood, que mostram o quanto a banda está ouvindo Flying Lotus e congêneres. “Obrigações, complicações, rotina e agenda, te drogam ou te matam”, diz Little by little, quase num remake da paranoia de No surprises.


Na segunda parte, piano e violão vão amenizando uma atmosfera de tensão e desencanto. Em vez de espezinhar o público, Yorke passa a confortá-lo. “Ninguém se machuca, você não fez nada errado”, em Codex. “Não me assombre”, pede Give up the ghost. O álbum termina dentro de um sonho bizarro e irresistível, de onde o narrador não quer acordar.


Até por ser curto (38 minutos), o disco parece aconselhar que voltemos às faixas várias vezes, até que nos familiarizemos totalmente com elas. Existe nessas músicas, até nas mais selvagens (Feral, digamos), uma aparência de criação doméstica, um som íntimo, sem bordas arredondadas ou produção padronizada, um som que dá a ideia de algo autêntico, que faz do ouvinte um cúmplice. O fã do Radiohead às vezes pode se sentir participando dos discos.


Desde que se livrou das obrigações da indústria musical, o Radiohead passou a procurar no próprio estilo, na própria tecnologia digital de gravação, a pureza que encontra nos elementos da natureza e que, para a banda, é corrompida pela vida urbana – mecanizada, artificial.
O título do disco, não à toa, vem de uma árvore com mais de mil anos de idade. Raízes bem firmes na terra. Em The king of limbs, o Radiohead vai se infiltrando lentamente nas profundezas do terreno que criou para si. Sem todas as surpresas que sempre esperamos dele (por isso, um disco que pode parecer um tanto frustrante). Mas talvez o momento seja de mapear o habitat: enquanto o gato não vem, os camundongos sonham.
PS- Será um problema, eu acho, se aquela parte da crítica mais devota (que costuma tratar o Radiohead como uma vaca sagrada) resolver colocar o rótulo de obra-prima em King of Limbs, porque aí é que a banda vai ficar parada mesmo. Espero que não aconteça, espero que tratem mais como um disco de transição (como Amnesiac e Hail to the thief) e menos como um clássico instantâneo.

Mas o Radiohead já conseguiu nos surpreender antes. Quando Ok Computer saiu, todo mundo pensava que aquele seria o grande momento da banda. Aí veio Kid A. E depois veio In Rainbows. Então ainda acredito que, no caso deles, tudo é possível. Tenho fé.

Volto....

Preciso fazer uma confissão, meus amigos, meu amigo(se e que alguém lê isso aqui...):no segundo semestre de 2010, não foi tão complicado escrever para este blog. É. Não foi. Nos momentos menos felizes, quando o meu mundinho nem tão sólido começa a flutuar no ar, seria nestas páginas que me penduraria. Os dedos agarrados ao teclado, gritando socorro. Fica até fácil.

Acontece que quando a vida te leva sorrindo, feliz, os parágrafos voltam a uma condição de repouso. Ou, pior, de movimento retilíneo uniforme. Aí descubro que não sei mais lidar com eles. Os dedos hesitam no teclado. A maré tranquila não faz bem à canoa.

Nas últimas semanas, fiquei nesse impasse. A vida está boa, em Julho passado me casei com a pessoa que amo e estou descobrindo que a vida reserva surpresas cada vez mais gostosas pra aqueles que a enxergam com olhos atentos. 2011, para mim, continua assim, abrindo com o happy end (cenas felizes que me impressionam dia após dia).

O blog, que sempre foi um pouco triste, servia pra propósitos nostálgicos, destoou do contexto. Até pensei: talvez ele tenha que mudar. talvez se começasse outro....

Dei uma lida, revisitei posts e tentei ler com distanciamento... Não consegui. Eram palavras que suei pra achar, lutei pra combinar e enfileirar em cada frase. Escrever pra alguns e tarefa fácil, pra mim, esforço épico!

Fiquei aflito, pra ser sincero: o site me parecia confuso, indeciso demais. Ainda não sei a quem interessa um blog como este, que não é isso nem aquilo, que não tem RG, que anda sempre na beira do telhado. Que não fala exatamente sobre música nem sobre cinema, que não é só um diário (de um sujeito mediano) nem um laboratório de textinhos ingênuos com ambição literária. Talvez tenha um pouco de todas essas coisas, mas essa equação (pouco + pouco + pouco) passou a me incomodar.

Fiz planos que facilitariam a minha vida. Passou a parecer uma questão de foco. Por exemplo: fazer deste um blog de música, quadradinho (mas talvez eficiente), com notícias e resenhas. Ou: fazer deste um blog de cinema, sisudo e cheio de pensamentos um tiquinho arrogantes. Ou: abandonar os discos e os filmes para escrever sobre o meu dedão do pé e minhas lembranças de adolescência, de um jeito arreganhadamente narcisista porém amável, com a possibilidade de fazer sucesso com a molecada. Ou: listar episódios de seriados. Ou: rankings non-stop. Ou: listas de melhores segundo meu umbigo ditador para sempre!

Nada parecia satisfatório, nada. Mas em meio a escuridão, brilhou um farolete onde menos esperava: O objetivo disso aqui e exatamente ver a vida, observar os dias passarem com calma, paciência, humor, beleza e claro, quando necessário uma certa dose de nostalgia... Sem formulas, sem regras.

Aqui volto então, casado, feliz, de casa nova, de prioridades mudadas, com incomodos antigos, reminiscencias da adolescencia, atalhos feitos na marra por encruzilhadas mal escolhidas, andando por pontes que já passei, achando estradas novas... Tenho um GPS agora. Já não ando sozinho pela estrada, mas ainda viajo, viajamos pelos dias, atravessamos durezas, falta de tempo, grana, dias que espetam nossa auto-estima, dias que nunca deveriam acabar.... Enfim, volto como fui, pela mesma razão pela qual me ausentei: Os dias felizes!