segunda-feira, 6 de abril de 2009

Yesterdays


O trio de Keith Jarret é, para mim, uma das escassas provas de que a incessante busca pela perfeição leva a algum lugar. Jarrett, Gary Peacock e Jack DeJohnette não têm, no entanto, nada de celestiais ou etéreos: são cem por cento terrenos. Lutam humanamente por uma qualidade cada vez melhor de sua musica. Encarnam os momentos em que o homem inventa universos, sistemas, complexidades e, sobretudo, a simplicidade.

“Yesterdays" saiu no começo de 2009 pela gravadora ECM, das raras gravadoras que ainda focam o catálogo em música francamente “impopular”, ou seja, que não enriquece exorbitantemente executivos e artistas e nem mede qualidade por números e vendas. Investe em musica de qualidade. A novidade é que, seguindo a tendência atual, pra quem gosta, o disco também é editado em vinil. Pra nos, que moramos no Brasil, nos resta importar ou contar com a sorte de achar numa busca em lojas que ainda resistem por ai...

Os nove standards do disco são gravações mais antigas. Estas particularmente estão guardadas desde abril de 2001, realizadas ao vivo em Tóquio, também o berço mais mais freqüente dos jazzistas atuais. Como uma iguaria ou um vinho, as safras de Jarrett são assim, ficam suspensas por um tempo antes de serem embaladas com a técnica perfeita de gravação e os encartes cheios de fotos e silêncios, sem texto.

A viagem de Jarrett pela grande canção americana não tem fim. Mas a cada vez toma um caminho, sempre surpreendente – de certa forma mais surpreendentes do que os espantosos solos, em que improvisa radicalmente, sem rede de protecao. Nesta gravação, o que chama mais atenção é o caminho mais bop, com Horace Silver (“Strollin’”) e Charlie Parker (“Scrapple from the apple” e “Shaw’nuff”) e uma versão de “A sleepin’ bee”. Ou ainda a mistura de invenção e jazz clássico de “Smoke get in your eyes”, com uma lindíssima introdução solo de um minuto e meio.

Como em todo lançamento do trio, “Yesterdays” só me faz pensar no que ainda deve estar guardado. O que não deixa de ser uma garantia de felicidade a prazo pelos anos que virão.

2 comentários:

André R. S. Gonçalves disse...

caro xará,
agora vc pegou pesado. não faça isso sem deixar aviso de perigo. ler isso logo de manhã sem ter tomado o desjejum só pode dar problema
esse trio para mim até hoje é referência do tradicional trio de Jazz, mais ainda do que os trios do Bill Evans (apesar de preferir o Bill ao piano). recordo cada nota do álbum 'The Cure' do mesmo trio que, aos treze anos, inconscientemente moldou o meu horizonte musical...
agora estou salivando para ouvir este... e será um dos álbuns que mesmo não ouvindo, comprarei cego... e num som decente para fazer juz ao esmero da ECM e dos músicos
thanks for sharing
shalom

BEM Nascimento disse...

uma descrição digna de cardápio refinado.
água na boca e vontade de consumir... com certeza procurarei por aí.
(creio ter resolvido o problema dos posts do blog)